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Cristo que sendo Deus se entregou ativamente por nós.
A epístola de Judas, embora seja muito breve, possui uma profundidade teológica gigantesca, o autor deste documento se posiciona fielmente como um verdadeiro pastor, vigilante e preocupado com a saúde espiritual da sua comunidade de Fé, demonstrando uma liderança que encaminha o rebanho do Senhor para um lugar seguro e traz um alerta retumbante quanto as lobos vorazes que estavam no meio deles.
Ensinos que destoavam da doutrina dos apóstolos concernente a natureza de Cristo e a Graça de Deus, orbitavam aquela comunidade e de maneira sutil já tinha adentrado sem que muitos se quer percebessem, mas o pastor percebeu e está alertando a todos os leitores e ouvintes o perigo que os cerca.
Introdução Bíblico-Teológica da epístola Judas
Judas na verdade não tinha a finalidade de escrever este tipo de carta, seu objetivo inicial era tratar de questões soteriológicas (vide Jd 3), mas diante do “perigo eminente” ele se vê na obrigação de escrever uma epístola de cunho apologética, acentuando desta forma castigos e julgamentos para aqueles que antes destes já tinham se mostrado rebeldes e obstinados em relação à palavra de Deus.
Cabe salientar aqui que, a epístola de Judas fornece uma ideia de como uma autoridade eclesial enfrentou perigos, previstos e reais, quando os cristãos começaram a dividir-se inteiramente, portanto é digna de nota a sensibilidade pastoral de Judas, o cuidado com o rebanho, ao ver o “perigo” se aproximando e de maneira sorrateira invadindo os arraiais de sua comunidade de fé.
Embora a epístola em questão ter sido escrita cerca de quase dois mil anos atrás, à mensagem contida nesse documento neotestamentario continua dada às devidas ressalvas e proporções uma mensagem extremamente contemporânea, frente a atual conjuntura religiosa do contexto evangelico brasileiro.
Autoria da epístola de Judas
O autor provavelmente era cristão Judeu, pois mostra que conhece os escritos judaicos, Assunçao de Moises (9) o apocalipse de Enoque (14) o escritor identificou-se como “Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago”(1) , mesmo que ele não indique a qual Tiago ele se refere, em geral a maioria os estudiosos do Novo Testamento concordam com devidas ressalvas que pode ser Tiago Irmão de Jesus, pois não se tinha na época outro Tiago que pudesse ser mencionado que viesse a ter referência. E neste caso Judas também é irmão de Jesus, (Vide Mateus 13.55-58; Marcos 6.3-6), Eusébio de Cesaréia salienta esse parentesco “Ainda viviam da família de nosso Senhor os netos de Judas, chamado irmão de nosso Senhor de acordo com a carne” (Eusébio de Cesaréia (263-340 d.C), História Eclesiástica, CPAD, 4ª Edição 2003, p. 97, diante desse fator pode-se perguntar por que ele não diz isso, mas Tiago também não diz (Tg 1:1); tendo assim a ideia que os irmãos não queriam ser declarado como parentesco, mais sim servos de Cristo, caracterizando uma verdadeira humildade cristã, se colocando na mesma posição de outros cristãos em vez de ter algum privilégio por ser irmão de Jesus.
Muitos estudiosos recentes sustentam que o escrito é pseudônimo, mas é difícil mensurar ou prever isto, é melhor aceitar a afirmação da própria carta de que o seu autor de fato se chamava Judas. Houve o Judas Escariotes apóstolo de Jesus (Mc 6:3) e outro Judas Barsabas (At. 15:22), mas não tem motivo para crer que o autor foi um desses dois.
Data de escrita da epístola
A epístola de Judas não tem uma data precisa em que foi escrita, mais a algumas deduções, uma dessas sugestões é que esse documento teria sido escrito por volta da viração do século, data que, de um lado, é quase o seu limite superior para ser consistente com a autoria pelo irmão de Jesus e, do outro lado, é aceita pela maioria que dos que negam essa autoria. Acerca disso, Carson salienta que, “Neste caso no final do século o irmão de Jesus estaria bem velho, que caso sustentamos que ele a escreveu, provavelmente colocaríamos a data antes (Gutherie estima uma data entre 65 e 80).”3
Outro fator que poderia contribuir para uma possível data antes da virada do primeiro século são as constantes citações de livros apócrifos, pois até antes do concílio de Jamnia estes escritos eram bem quistos pela comunidade judaica (lembrando que Judas é de descendência judaica). O concílio judeu em questão que ocorreu em 90 d.C em Jamnia (atual Yavne) vai definir os livros do cânon judaico excluindo estes apócrifos utilizados por Judas em sua escrita.
Portanto, partindo deste pressuposto elencado acima (a apropriação do autor nos livros apócrifos) subentende-se que a epístola de Judas possa ter sido escrita antes do concílio de Jamnia.
Entretanto como sugeri Carson, “Praticamente nada nesta carta nos permite atribuir com precisão a data em que foi escrita; as tentativas de datação são em sua maioria conjecturas”.
Uma análise panorâmica do conteúdo da Epístola
Raymond Brown dividiu da seguinte forma a Epístola de Judas:
Fórmula introdutória: 1-2
Corpo: 3-23
3-4: Circunstância: Luta pela fé por causa de certos invasores ímpios
5-10: Três exemplos de punição pela desobediência e aplicação deles
11-13: Mais três exemplos e uma descrição polêmica dos ímpios invasores
14-19: Profecias de Henoc e dos apóstolos acerca da vinda de tais pessoas sem religião
20-23: Reiterado apelo a fé; diversos tipos de julgamento a ser exercitados
24-25: Doxologia conclusiva.
Se por um lado à questão relacionada à data é uma questão um tanto quanto nebulosa onde há muita divergência de opinião, o tema ou o conteúdo que vai ser tratado pelo autor é algo extremamente notório, pois se trata da preocupação pastoral com o rebanho, que estava naquela ocasião sendo alvo de algumas pessoas, estes que o autor vai chamar de “ímpios”.
O hagiógrafo em questão, tem a intensão em um primeiro momento de escrever sobre ou “a respeito da nossa salvação comum”. Entretanto, preocupado com distorções teológicas que surgiram no seio da igreja ele tem que mudar o rumo da conversação para alertar os irmãos dessa comunidade acerca dos perigos desta “nova” compreensão doutrinária.
Por meio da descontrolada libertinagem estes homens estavam negando a Cristo e seu Pai. Acerca destes falsos pregadores que se infiltraram na comunidade Michael Green salienta que, “Estes falsos mestres certamente eram culpáveis de uma negação prática da sua fé pela sua maneira de viver, e provavelmente de uma negação da divindade e do Senhorio de Cristo pela forma do gnosticismo incipiente que seguiam”. Pois o texto diz que eles: “infiltraram-se dissimuladamente no meio de vocês. Estes são ímpios, e transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor”.
Acerca destes homens, Carson endossa a questão salientando que: “Levam vidas infrutíferas, estando interessados apenas em obter vantagens para si (13) e usam a falsidade para atingirem seus objetivos (16)”.
Partindo das ideias apontadas acima subentende-se que a comunidade de fé a qual Judas fazia parte, sem perceber abriram as portas para pessoas que estavam pervertendo os ensinamentos apostólicos, esses falsos mestres se utilizavam de um discurso atraente mas seu conteúdo era nocivamente tóxico para a comunidade. Inclusive, os falsos ensinamentos e as distorções doutrinárias vão ser problema recorrente do período pós-apostólico, período este a qual supostamente a epístola de Judas é oriunda.
Este problema vai ser combatido com uma ação pastoral, com poimênica, com o cuidado do pastor para que seu rebanho não caia em supostas “armadilhas”, para que a comunidade não viva como estes falsos pregadores que negam na praticidade a espiritualidade da vida cristã.
Portanto diante destas questões, e acerca da epístola de Judas pode-se destacar o cuidado pastoral de Judas, a sensibilidade, a vigilância, a diligência, à cosmovisão cristã e o compromisso com aqueles irmãos que eram conhecidos e até quem sabe pastoreados por ele.
Considerações finais
Por fim cabe aqui ressaltar que a Epístola de Judas continua assustadoramente contemporânea, a simples leitura mostra um pastor preocupado com a saúde espiritual do seu rebanho, um pastor que se posiciona para “combater a luta da fé”, um pastor que se posiciona para dar diretrizes para vida, consubstanciado nas Escrituras.
Embora muito breve e às vezes até mesmo menosprezada nas liturgias e nos púlpitos das igrejas, esta epístola não deixa de ser densa em sua Teologia, rica em doutrina e esplêndida em sua doxologia. Contendo nela, conselhos, advertências, apontamentos, diligência, fatores indispensáveis para uma ação pastoral relevante. Oremos para que o Senhor possa nos dar cada vez mais, pastores segundo o seu coração (vide Jeremias 3:15-17) que liderem com maestria na palavra, zelo na doutrina, sensibilidade no espírito e compromisso com suas respectivas comunidades.
Fonte: https://www.gospelprime.com.br